Ainda não estamos terminados
Existe uma história, não sei se verídica, que narra sobre o Rei de Atenas que certo dia retornou de uma longa viagem de navio.
Ao longo de seu percurso, as tábuas velhas e desgastadas do navio, iam sendo substituídas por novas, de forma que ao chegar de volta, todas as tábuas haviam sido substituídas.
Então, pergunto: o navio que retornou é o mesmo navio que partiu na viagem?
Tentando colocar a vida humana no lugar do navio (como metáfora), ao longo do mar da vida vamos passando por tempestades que vão, pouco a pouco, modificando nossa forma de ver, de ser e de estar no mundo.
A vida, se parece muito com uma obra de arte: numa pintura colocam-se cores, formas e impressões..., numa escultura retiram-se os excessos dando novas formas à sua criação..., nas páginas brancas de livros, colocam-se palavras, expressões, criações. Em qualquer um dos exemplos, o resultado é uma tela, uma pedra transformada ou um livro editado.
Acredito que a espiritualidade é um fator de transformação no homem. Também considero fatores de transformação os relacionamentos de amor ou amizade que temos durante a vida, que "impregnam" mudanças em nós.
Pensando nestas transformações todas que acontecem conosco, cito uma fala de Riobaldo, um jagunço-filósofo, personagem de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa, que é um velho fazendeiro, que conta sua experiência de vingança, de amores, de perseguições, lutas pelo sertão em Minas Gerais, Goiás e sul da Bahia, cheio de reflexões.
E uma dessas reflexões vem de uma de suas falas: “ – O senhor olhe, veja: o mais importante e bonito do mundo, é que as pessoas não estão sempre iguais, elas ainda não foram terminadas – elas vão e estão sempre mudando."