Aproveite as voltas que a sua vida dá

01/09/2017 07:28

José Saramago, escritor português, costumava dizer que o destino tem que dar muitos rodeios antes de chegar a qualquer parte. Ou seja, a vida tem seus próprios caminhos, coisas que não controlamos, suas ironias, suas voltas, de modo que sempre haverá o inesperado e dificuldades para enfrentar. Sempre haverá desilusões, quedas e ultrapassagens...

No entanto, ainda que os momentos de crise sejam horríveis, eles DEVEM significar um despertar, pois como disse Robin Williams, ator americano já falecido, no filme Gênio Indomável: "As crises nos acordam para as coisas boas da vida."

Não há como escapar, todos nós um dia passaremos por um momento que colocará o nosso emocional no chão, a mente perturbada, cercados de tristeza e desespero. Não há como escapar porque a vida não te poupa algumas vezes e a dor e o sofrimento são próprios dela, assim como o amor e a alegria.

Embora não haja como escapar, no meio da dor parece que percebemos quem somos de fato e o que queremos da vida. Sem pressões externas, é apenas o eu e o mim dialogando e, assim, conseguimos enxergar sem máscaras a formação do nosso ser e o que ele grita desesperadamente para fazermos. Por isso, as crises nos acordam para o que não percebemos, porque elas nos acordam da vida, fazendo-nos enxergar aquilo que na simplicidade do dia a dia deixamos passar, enquanto fingimos estar tudo bem.

Como disse, ninguém quer sofrer e não acredito que fomos feitos para isso. Apesar destes momentos de tensão surgem coisas maravilhosas, porque nesses momentos permitimos estar mais próximos do que realmente somos. Dessa maneira, as crises podem nos levar a um processo de autoconhecimento e de maior felicidade, já que ninguém é verdadeiramente feliz sendo um desconhecido muitas vezes, de si próprio.

As crises nos mostram que podemos mudar, que não devemos nos acostumar, que há sempre algo a fazer com o que a vida fez conosco. Da mesma forma que nos faz perceber o que realmente nos faz feliz, nos mostra que devemos valorizar as pessoas que em momento algum largam a nossa mão, e faz com que o nosso olhar possua mais doçura para enxergar as belezas que explodem aos nossos olhos, mas não somos capazes de perceber.

Rubem Alves certa feita disse que foram as desilusões que o levaram a ultrapassagens, isto é, sem as desilusões que sofrera, ele jamais seria o Rubem que conhecemos. Concordo plenamente com ele, pois sei que sem as minhas crises, eu jamais seria quem sou hoje. Sei também quão doloroso é esse processo, mas sei que de muitas dores vem à alegria, como a mulher que sente a dor do parto, mas se alegra com a beleza da vida. As nossas crises são como um parto. É necessário enfrentá-las se quisermos renascer, já que lembrando mais uma vez Rubem Alves: "Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses."