Nosso comportamento serve de exemplo
"Age sempre de tal modo que o teu comportamento possa vir a ser princípio e modelo de uma lei universal." (Kant)
Não poderia encontrar melhor pensamento para iniciar este meu texto do que este de Immanuel Kant, um grande filósofo prussiano, que acreditava que todos nós trazemos formas e conceitos a priori (aqueles que não vêm de nossa própria experiência ) para a experiência concreta do mundo também conhecido pela filosofia moral. Ou seja, aquela bagagem de conhecimento que adquirimos através da vivência e exemplos daqueles que nos cercam.
Muito bem. Todos sabemos que somos rodeados por e de pessoas..., que fomos criados para estabelecer vínculos com os outros e por este motivo, jamais podemos ser ilhas isoladas porque isso significaria a nossa morte enquanto “animal” social.
Apesar de sabermos desta nossa necessidade, devemos ser cautelosos na escolha e construção das nossas relações de afetos e de convívio social.
Até aqui penso que estamos todos de acordo e sei que todos compreendem, mas então, porque razão temos tantas desilusões ao longo da nossa existência e porque somos magoados por quem menos esperamos?
A resposta pode ser complexa, mas a primeira explicação surge ainda no decorrer da nossa infância onde somos confrontados com os mais variados modelos que nos servem de exemplos comportamentais vindos dos laços familiares, relações afetivas em pares e de toda a sociedade em geral.
É a partir deste estágio de desenvolvimento que formamos a nossa personalidade, tal como, tomamos as primeiras decisões, criamos os primeiros laços de amizade e basicamente “copiamos” o que vemos, certo ou errado, mas copiamos.
Com o passar dos anos e já na idade adulta, mesmo que inconscientemente, tenderemos infelizmente, a reproduzir os modelos que tivemos e acumulamos de tempos vividos. Estes mesmos modelos podem entrar ou não em choque com a realidade que nos rodeia, podem ser benéficos ou prejudiciais para a nossa sanidade e bem estar físico.
As desilusões e as mágoas surgem quando desde cedo presenciamos ou fomos vítimas de situações de abuso que incutem na nossa mente o não sermos merecedores de qualquer coisa melhor que aquilo... partimos em busca de elos de ligação pobres, de amizades fáceis, de amores destrutivos da personalidade, todo um conjunto de sentimentos não tão bons, que deixam marcas na alma, no corpo, na mente.
É a repetição de ciclos de auto sabotagem que levam por terra sonhos, objetivos e relacionamentos que geram cada vez mais sofrimento.
Quantas vezes não ouvimos dizer que o amigo do fulano é culpado por tudo, decepciona os outros, desfazendo as suas potencialidades criativas e a sua individualidade? Que incutiu em si padrões e valores dos pais, tornando-se uma pequena cópia dos mesmos? Que acha que nunca tem o reconhecimento merecido, estando sempre certo e não tolerando julgamentos negativos a seu respeito?
Este fulano muitas vezes não percebe este seu comportamento hostil e por esta razão as pessoas se ofendem com o que ele diz, comportando-se de maneira desafiadora. Começa e não termina nada,
afasta-se das pessoas que o tentam alertar ou ajudar e não se importa de mudar de assunto para falar dos problemas dos outros, protela decisões e nem sempre mantém um padrão de vida compatível com a alma.
Mas sabem quem é este fulano? O fulano é aquela pessoa a quem Kant se refere. Aquele que viveu sempre ancorado em outras pessoas que evitaram que ele enxergasse e notasse toda a sua potencialidade. Apagaram a sua luz própria, a sua energia, os seus sonhos e pior de tudo, incutiram o medo e a indecisão entre outras coisas.
O que pode o fulano fazer para ser um exemplo, mostrando na verdade quem realmente ele é?
Ele necessita desenvolver o caminho para a sensibilidade, fazer escolhas com responsabilidade, libertar-se e aceitar-se como um ser humano real, saber ouvir e aceitar as propostas de crescimento que os que o amam têm para lhe fornecer. E fundamentalmente, o fulano necessita banir da sua vida qualquer vestígio maléfico de ciclos passados que se repetem no presente (espaços, pessoas, acontecimentos).
É difícil?
É! Mas a vida mostra sinais, o nosso corpo mostra sinais sobre o que é certo ou errado e se nos magoamos ou nos decepcionamos com determinadas coisas, é porque algo necessita mudar.
Encerro tendo a certeza de que devemos estar atentos a tudo o que nos rodeia, ao que vemos e não vemos. Devemos saber ouvir e entender tudo que quem nos é próximo tem para dizer, estar receptivos ao amor verdadeiro.
Que devemos ter atenção ao número de vezes pelas quais passamos pela mesma situação negativa e compreender que nada é por acaso!
Por este motivo, olhemos para dentro de nós, encontremos as nossas reais necessidades e sejamos verdadeiramente felizes, livres de qualquer forma de intoxicação ou malefícios que possam surgir a partir de modelos e exemplos em nossa convivência com todos aqueles que nos cercam.
Sejamos bom exemplos para os outros, valorizando o que de melhor todas as pessoas possuem conseguindo filtrar o que podemos ou não carregar em nossa jornada, servido para a construção de nossa personalidade.