Regue só o que realmente brotará
Parece que, entre a maioria das pessoas, já virou costume regar pedras pelo caminho. Acredito que a gente faz por instinto, costume ou por pura ingenuidade por que a gente acredita que dali vai brotar algo, vai nascer folha, fruto, flor.
Então lá se vão litros de tempo e cuidado perdidos com uma pedra. Uma pedra que não deixará de ser pedra. Não, não adianta dizer que a pedra vai crescer, que ela vai ganhar vida e vai virar outra coisa que não ela mesma. Não, não importa o que a gente faça, a bendita pedra vai ficar ali, assim como estava antes da gente chegar, e permanecerá exatamente igual quando a gente partir.
Um dia a gente tem que olhar para pedra e ser menos poético. Tem que olhar para pedra e ver pedra mesmo. Tem que se enxergar, se tocar e perceber que alguns caminhos não levam a lugar algum. Que algumas pessoas não mudam. Que algumas situações são complicadas e que não dá para resolvê-las sem o apoio do outro.
Um dia a gente tem que colocar na cabeça que há um caminho além das pedras e que ele merece ser priorizado. Que a gente tem que ser cuidadoso com o nosso tempo. Que o nosso tempo é valioso e finito. Que tudo que desprendemos desnecessariamente para regar pedras pode nos fazer falta em algum momento da vida.
A gente tem que aprender, de uma vez por todas, que tem muito chão precisando de água por aí. Que tem muito coração sedento de amor. Que tem muita gente boa ao lado de quem vale a pena caminhar.
Não importa quantos litros desperdiçamos com uma pedra, dela não virá uma única gota para nos saciar se um dia tivermos sede.
Talvez tenha chegado a hora da gente descansar os braços estirados pela rega desnecessária. Talvez tenha chegado o momento da gente guardar os regadores e regar cuidados, amor, respeito e zelo em tudo aquilo que merece ser efetivamente regado.