Se mostrar na totalidade não é fraqueza e sim, um ato de coragem

13/09/2017 10:24

Esses dias, em minhas muitas leituras que faço na internet sobre o comportamento humano, me deparei com o trabalho da Brené Brown, uma pesquisadora americana, que dedicou mais de dez anos de sua vida pesquisando temas como vergonha, vulnerabilidade, criatividade e autenticidade. Durante esta sua pesquisa ela entrevistou centenas de pessoas tentando entender o que exatamente diferenciava as pessoas que ela intitulou “wholehearted” (que alcançaram plenitude) com pessoas que estão emocionalmente miseráveis. E o que ela descobriu é que uma vida “wholehearted” está ligada à nossa capacidade de sentir empatia e à nossa capacidade de sermos vulneráveis.

Nossa, como sempre faço em assuntos que me interessam, devorei o trabalho dela e foi o que me ajudou a entender que todos devemos ser vulneráveis em fases que precisamos de acolhimento para todos os tipos de relacionamentos em nossas vidas mudarem. 

Com certeza não é processo fácil, porque a nossa cultura não nos convida a ser vulneráveis. Nos dias de hoje erroneamente confundimos vulnerabilidade com fraqueza, então para evitar esse rótulo e muita exposição colocamos máscaras e almejamos perfeição. E assim, estamos todos sempre muito bem, lindos, felizes.

O que não entendemos é que em um ambiente baseado na “perfeição” não existe espaço para conexão. Certamente as melhores conversas que tive na vida e os relacionamentos mais profundos não começaram com “estou bem”. Quando (fingimos que) tudo está bem, nós evitamos falar de nós mesmos e então falamos sobre as coisas: sobre religião, sobre política, sobre a novela, sobre o tempo, dessa maneira não ficamos expostos sob o refletor.

Hoje me faço um convite todos os dias e lanço um desafio bem interessante nesse sentido, para fazerem o mesmo.Que sejamos como as crianças, que na pureza delas, naturalmente já sabem que errar é de fato humano e que nós adultos andamos meio esquecidos disso.

Acho que nesse sentido sou igual a elas pois sempre fui péssima em maquiar sentimentos, Nunca entendi como as pessoas conseguem esconder o que sentem, fingir que tudo está bem quando não está, engolir o choro, falar apenas de assuntos amenos. Talvez por ter essa capacidade de expressar minhas vulnerabilidades que eu tenha construído grandes amizades ao longo da vida. E de fato almejo um mundo onde as pessoas possam falar de seus medos, inseguranças, erros, sem que se sintam envergonhadas.

Eu não tenho vergonha de contar minha história, mas o que aprendi com o tempo é que existem pessoas que não merecem escutá-la. E é importante que saibamos disso para que possamos nos preservar de julgamentos e comentários pouco acolhedores e que possam nos fazer sentir pior.

Apesar de entender isso, acho um tanto triste que tenhamos que manter tanto controle sob o que queremos expressar. Acho também triste a maneira como tornamos sentimentos tão genuínos em sinal de fraqueza. 

Em minha opinião o que não dá para construir mesmo é uma vida plena sem que possamos ser quem somos e expressar nossos sentimentos, desejos, medos e inseguranças para quem quer que seja e sermos amados por isso e também acolher isso no outro. Engana-se quem pensa que sentir-se vulnerável é sinal de fraqueza. Estar vulnerável não tem a ver com fraqueza, mas sim com coragem.

Eu quero viver em um mundo cheio de pessoas com essa coragem, que queiram ser vistos, sem que sintam vergonha por isso.

Sei que não posso mudar como o outro vai receber minha história e fazer com que ele entenda que ser vulnerável é ser humano, mas posso escolher me permitir estar vulnerável independente do que ele pense e, principalmente, cada dia mais me cercar apenas de pessoas que mereçam escutar minha história e que queiram compartilhar as suas. 

Eu termino esse (longo) texto da mesma maneira que a Brené Brown termina uma de suas palestras que tanto me tocou: “Se queremos encontrar o caminho de volta uns para os outros, vulnerabilidade é o caminho.”