Sobre as perdas e tudo o que deve ficar como lição
Meu Deus, como assim morto? Ele estava aqui ainda agora? Não pode ser engano?
Esperava que o jornalista nos pedisse desculpa pelo erro e corrigisse aquele absurdo que era a morte do ator global.
Mas assim é a morte. Sem consertos. Só absurdos.
Assim a gente faz. Finge que manda na morte. Faz que controla a vida. Tem lista de desejos e prioridades. Como se fosse ser atendido.
Não é. Quando perdemos alguém, um pedaço da gente vai meio junto.
De repente tudo muda!
As pessoas se vão. A gente tenta segurar, pega na mão. A mão escapa e a pessoa se vai. A gente urra de dor. Geme. Chora. Se descabela. Se desespera. Ai a vida, essa caprichosa, ão tem pena do que faz com a gente?
No susto se foram tantos que já perdemos.
O telefone que toca. O mundo que desmorona. A falta de quem sempre esteve. E o vazio indefinido por dentro. Uma mistura de tristeza, de luto.
A gente boia em incertezas. Como se alguém, sem dó, puxasse todo o tapete. Tombo sem chão, sem parede, sem teto. Nada nos protege de coisa nenhuma. Somos carne viva. Tudo nos dói.
Como lidar com um barulho desses? Talvez o grande segredo seja exatamente esse. Percebo que ninguém é para sempre. Nada é meu. Não a seguro, cofre, nem garantias que nos protejam das perdas. Qualquer correnteza nos leva. O futuro é nesse momento.
Então não poupe. Nem se poupe. Não colecione. Se emocione. Viva, abrace, diga que ama. Gaste afetos. Fique perto. A vida é agora. Depois, não se sabe. Nunca se sabe. Seja bom. Deixe marcas. Borde almas. No final, é o que conta. O que fomos. O que aproveitamos. O que deixamos no outro.
Esse é o nosso único objetivo em viver: bordar na alma dos outros, o amor.